Aranhas.

Hoje meu armário velho abri, o medo me angustiou pois sabia o que estava por vir. Em um súbito ,depois de tanto hesitar, abri-o de vez e junto da poeira vieram as lembranças de um amor sufocado, sonhos esmagados, sulfácidos e homicídios. Caí com força no chão lembrando dos beijos doces que me faziam sufocar, quase cheguei a sorrir, quase fui feliz, até vê-las, Duras e ressequidas como couro velho e fervido, estavam as aranhas, olhando-me e acusando-me pelo que havia feito. A dor veio e não resisti, fechei o armário para nunca mais abri-lo. Porém, eu sabia que não seria a última vez.

 - Efraim Véras.

Náufragos do universo

O que somos nós neste mar confuso?
eu me pergunto

E que destino nos reserva,
por fim,
este bote planetário?

Enquanto não sabemos
vamos (sobre)vivendo
na superfície.

das distâncias

Há peitos e bundas espalhados
nas telas dos nossos computadores.
Há desgraças e maldades
nas manchetes dos jornais.

Meu peito se abre como flor ao mundo.
Floresce. Cresce. Muda. Colore.

Ontem e hoje


Hei que hoje sou
Mais brando
Mais calma
Mais amado

Ontem as trevas me deram
Conhecimentos sobre o perdão
A lembrança,
Esperança,

E por mais que eu pense em mover meus pensamentos
Para frente,
Há sempre uma corda invisível
Me forçando a olhar para trás



       From all my heart.
De tempos penso em você
De tempos esqueço-me
Mais o modo que você olhava-me era encantador
Meu coração em sua mão
Preso por cadeados
Ouça-me, eu grito por mais um beijo
Sem gosto, tão desprezível mais mexe com todas as partes do meu coração
Seu rosto é a razão do meu sorrir e também do meu choro
Não tenho tudo que quero, mas tenho você
Me veja, me ouça, me tenha consigo

É o mesmo de sempre
Você é louco, não sei se por mim ou pelos prazeres que te causo
Mas machuca te ver longe
Talvez você foi o único
Isto é um caminho sem volta
Não te abandonei, rezei, gritei, chorei.
Me sacrifiquei,
Não me arrependo de nada, mais ao mesmo tempo de tudo
Poderia ter sido diferente, mas foi como  eu sempre imaginei.

Andorinha



Num instante,
transformou-se

E quem dita o tempo?

Asas rasgando costas
e um grito de liberdade
exprimiu-se dos lábios

Voou,
amou,
tombou,
levantou
e, 
novamente,
voou

Perdeu-se no horizonte,
mar de nuvens
e lar dos ventos

E reencontrou.

autolimpante


Há cigarros.
Muitos cigarros.
Mais de mil cigarros.
Todos dentro de sacos plásticos.
E como há sacos plásticos por aqui...
Há carros de todas as cores.
Os carros estão abarrotados
de gente suja e de filantropia
As pessoas carregam sacos plásticos
cheios de cigarro.

Chamaram Deus para resolver a equação,
mas havia muitas incógnitas.

Incógnito sou eu,
escondido por trás das cortinas.
O mundo seria um teatro?
Não conheço muitos atores...

Conheço gente que lota ônibus
que fede a cigarros e plástico queimado
Gente que sua sangue poluído
de asfalto e de filas de banco.

Conheço gente que canta a canção urbana
gente que mora no sétimo andar
e implora para o anjo bom
aconselhar no ouvido esquerdo 
que não se deve pular.

Incógnitos são os poetas.
O mundo tão risonho,
lotado de cigarros 
plástico e fumaça dos ônibus.
O mundo crescendo tanto para cima
e os poetas,
ah, os poetas
Estes crescem para dentro de si
devoram seus próprios corações
e acham que sabem de tudo

no fim das contas,
vão na rodoviária,
fumam mil cigarros, 
os jogam em sacos plásticos 
e saem a fumaçar.
Então eu fico na minha, 
pensando com meus botões.
Queimando meus neurônios
antes que os joguem num saco plástico.