os pombos e a cidade

As pessoas na praça
chorando aos pombos
que a prisão
não é mais bela

As pessoas sujas
vulgares e arrependidas
chorando aos seus chefes
um pequeno aumento
no salário
visualizado
nas lentes da sociedade

As pessoas no ônibus
chorando no meu ombro
pedindo aos deuses
uma cama de molas
para pagarem
no fim do mês

Ela tem mel nos cabelos



Corra,
corra garota doce

Os ursos andam 
à procura de 
devorar-te

É tempo de caça
e eles estão sedentos
por saborear-te

Teus passos
são doces rastros
a farfalhar a terra

Voe,
voe abelhinha,
eles estão sedentos 
por teu vermelho
e fresco
mel

Eles se aproximam,
ouça o arfar de seus corpos
e o peso de suas passadas,
a terra estremece,
seria o medo?

Eles rugem,
são seres bárbaros,
são feras primitivas,
são homens...

Voe...
Corra...
Retalharam o teu corpo
esguio
com suas garras
e seus músculos bestiais

Oh doce garota,
eles querem o teu
mel.

Prece

Não se desfaça
Das minhas fases
Meio aos desfarces
Em minhas faces
Pois sempre as coisas
Que veem mais fáceis
São as fugaces
Dentre as demais

fótons

 -Puts, ela esqueceu o casaco e o colar...

E do outro lado da cidade, ela pensava:

"Será que ele vai pensar que eu deixei o colar lá só pra ter algum motivo para voltar amanhã?"

Noites inquietas se passam dos dois lados da cidade com em qualquer dia corriqueiro nesse mundo rodeado de seres humanos. As pessoas acordam. Comem e rezam, feito máquinas programadas e desreguladas. Ela volta para pegar o colar, o beija e ultrapassa sua cota de bem-humorismo do dia.

Qual o motivo de amanhã?
O amor?