histórias de sono

Sinto meu corpo
como uma roupa
que a gente sente
depois de um dia
de corridas perdidas
Sinto meu peito
como uma pedra
sendo carregada
numa caixa de sapatos
balançando
para lá
para cá
indo e vindo
sem caminho certo
Sinto meus pés
como o solo do mundo
onde todos pisam
mas ninguém
pede ao menos
uma desculpa
Sinto meus olhos
como câmeras antigas
que ninguém mais usa
mas com as câmeras novas
querem fazer fotos
como as minhas
em preto em branco
meus olhos
fitam o nada
sempre
sempre
Sinto meu cérebro
como um computador
ultrapassado
Sinto-me por completo
como um aparelho
um eletrônico antigo
exposto para o mundo
numa sala de paredes brancas
junto com meus iguais
Sinto-me usado
como um objeto
Sinto-me desperdiçado
Sinto que tudo que eu faço
é apenas um trabalho sujo
e eu espero o tempo
em que me trocarão
por uma máquina
e a máquina
será trocada
por uma melhor
Os homens esqueceram
que por trás de cada um
existem sentimentos

Eu falei demais
para somente dizer
que hoje eu estou feliz
estou me sentindo
muito parecido
com o cara
que eu costumava ser
quando não havia
um mundo todo
pesando

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