Pássaros


Eles disseram que acabariam com a minha região. Lembro-me de papai falando que o governo tentaria evitar, que ele nos protegeria.

Jamais seriam o suficiente, eles nunca são.

Nem era tão tarde pra que a Lua engolisse o céu e restassem poucas fendas de luz. Nem era tão cedo pra que o Sol fizesse ser ele a única visão das sombras. Não sei ao certo se era alvorecer ou crepúsculo, apenas sei que a Lua brigava com o Sol, tão pouco cavalheiro, por um palco acima de nossas cabeças, acima de nossas mentes, acima de tudo aquilo que tanto clamamos ser nosso.

Eram treze pássaros de enxofre que desciam flamejantes em direção a nós e, ao tocar o solo, abriam-se em forma de flor de morte.

Era isso, apenas isso, que se via de nossa cerra.

Papai dizia que poderíamos escapar, que dava tempo de fugir. Já estávamos de malas prontas desde o aviso de ataque.

Eu achei que íamos viajar, achei que íamos voltar. Meu Deus, eu realmente achei que um dia poderíamos voltar àquele lugar...

Mas eu não queria, não, eu não queria ir. Eu queria ficar. Queria tocar o belo pássaro brilhante. Queria ver de perto sua linda flor de fumaça. Queria ensurdecer-me com seu grito tentador.

Apenas recordo de mamãe me pondo no colo e tapando meus olhos. Eu ouvi gritos e senti o cheiro das carnes queimadas.

Meu Deus, eu era apenas uma criança! Não pensava em guerras... Eu não sabia que havia tantas bombas no mundo.

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